Por Daniel Rocha 

Em 1950, depois da abertura das primeiras estradas de rodagem na antiga microrregião do interior dos municípios de Caravelas e Alcobaça, atual território teixeirense, a chegada de migrantes de outras partes e a constante circulação de caminhões contribuiu para formação do “Comercinho do Pretos” e a perturbação do ambiente sonoro local.  

 Segundo texto publicado do site da fazenda Cascata em 2016, Quincas Neto, que já tinha ligado sua fazenda com Caravelas através da estrada aberta por trabalhadores, no início da década de 1950 pediu permissão ao proprietário da madeireira ELECUNHA S/A, o senhor Euleuzibio Cunha, para interligar a sua estrada à estrada que este havia construído para o transporte de madeira que abasteciam uma serraria em Nova Viçosa.  

 A estrada que passava onde hoje é o centro de Teixeira de Freitas (Avenida Princesa Isabel) fez assim uma ligação rodoviária que permitiu o surgimento e o desenvolvimento do pequeno povoado que deu origem a Teixeira de Freitas. E permitiu também que os caminhões da empresa circulassem mais pelo território em busca de madeiras transformando a paisagem do lugar, antes acessível só pelo rio e trilhas dentre as matas.   

 Além de ter influenciado na formação da aglomeração comercial dos moradores das redondezas, um breve relato mostra que a movimentação constante dos automóveis modificou o ambiente sonoro predominante nativo e agrário das fazendas existentes no espaço, outrora dominado por sons e ruídos de instrumentos laborais, usados pela família e comunidade, e sons de animais e diálogos entre parentes e trabalhadores comuns.  

 Em 2014, em entrevista para uma edição especial do jornal Alerta dos 29º aniversários de emancipação da cidade, o antigo morador da fazenda Nova América, Vantuil de Freitas Correia, relatou: “Era interior brabo mesmo. A gente ouvia zoada na fazenda. Quantas vezes eu saía da mesa para ver o carro descendo, no entanto era só zoada do carro que chegava perfeitamente lá. Meu pai dizia “menino é o carro lá na rodagem.”  

 Já Isael de Freitas Correia, em um relato sobre o surgimento da cidade, registro de 1985, recordou que o primeiro carro a circular no povoado foi um “caminhãozinho estilo F-100”. Em uma rápida fala, destacou o morador não a qualidade do automóvel, mais que o mesmo era “barulhento pra danar.” Classificação que denota que o automóvel gerava incômodo quando transitava pelo povoado.  

Dessa forma, suponho a partir desses fragmentos que, os sons incômodos dos caminhões e carros ligadas a empresa madeireira de Euleuzibio Cunha e de moradores vindos de outras partes, alterou o ambiente sonoro local invadindo também os ambientes privados em um contexto que todas essas mudanças era divulgada como parte do processo de modernização, nem sempre benéfica para moradores.  

Fontes

BANCO DO NORDESTE, As origens. Teixeira de Freitas, Fortaleza – Ceará. p.05-07, Janeiro 1985.

MELLO, João Manuel Cardoso de; NOVAIS, Fernando A. Capitalismo Tardio e Sociabilidade Moderna. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz (org). História da vida privada no Brasil: contrastes da intimidade contemporânea.

Jornal Alerta. Uma parte da história de Teixeira de Freitas contada por Vantuil de Freitas Correia. 2014.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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