Por Daniel Rocha
Após o reconhecimento oficial da sua emancipação política em 9 de maio de 1985, Teixeira de Freitas iniciou um processo de organização para que as sedes de Alcobaça e Caravelas transferissem o comando da cidade ao prefeito eleito, Temóteo Alves de Brito ( em memória), em janeiro de 1986.
No entanto, esse processo resultou em uma retirada abrupta da gestão alcobacense, que levou consigo todos os pertences e deixou a cidade diante do desafio de começar do zero, sem recursos e materiais básicos. Coube aos teixeirenses se unirem para garantir o essencial é assegurar a realização da sua festa mais importante, apesar dos diferentes interesses em jogo.
Segundo Carlos Mensitieri (em memória), em seu livro intitulado “A Recente História de Teixeira de Freitas: um depoimento”, em dezembro de 1985, houve quase uma paralisação dos serviços públicos na cidade. Na posse do prefeito eleito, em janeiro de 1986, nem mesmo vassouras para garis foram encontradas. Na verdade, quase não havia material suficiente para iniciar a nova gestão.
Assim, relata o autor, o então prefeito Temóteo fez um apelo à população para doar materiais básicos, como vassouras, enxadas, pás, produtos de limpeza e outros itens essenciais, como papel ofício e papel higiênico para garantir um pleno funcionamento dos órgãos municipais em seu primeiro mês de governo.
Ainda segundo Mensitieri, a resposta da comunidade foi impressionante: uma montanha de materiais doados se acumulou na praça da rodoviária, hoje praça da Bíblia. Esse gesto expressou o desejo urgente do povo de ver o poder público trabalhando rapidamente para melhorar a cidade, que enfrentava diversos problemas na época.
Já em setembro de 1986, nove meses após o início dos trabalhos administrativos, o jornal A Tarde, em sua edição do dia 02, informou que a diretoria da Cooperativa Mista Agropecuária do Sul da Bahia estava contando com a colaboração da comunidade teixeirense para a realização da 9ª Exposição Agropecuária, a primeira da cidade emancipada.
Que para ser realizada, entidades representativas, como a Maçonaria, o Rotary e o Clube de Diretores Lojistas, além de órgãos oficiais como a CEPLAC, a Escola Média EMARC, a Coelba e a Embasa, uniram esforços para realizar o evento que era de grande importância para a cidade e região ainda muito agrícola, que tinha na festa um momento de divulgação dos negócios.
Naquela época, Teixeira de Freitas, que já tinha comemorado seu primeiro ano como cidade emancipada, se destacava principalmente por sua produção agrícola e criação de gado. O prefeito, que também era membro da cooperativa e um dos pecuaristas mais bem-sucedidos da região,Temóteo Brito, desempenhava um papel fundamental nesse cenário e sabia mobilizar apoios políticos em prol da cidade e dos interesses da sua classe.
Tanto que a Exposição Agropecuária, realizada na cidade, contou com a presença do governador do Estado, João Durval, e do ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, que mantinha grande influência sobre a política estadual e regional.
Dessa forma, o evento, fruto da união entre a sociedade civil organizada e a classe produtora da cidade, não foi concebido apenas como uma celebração festiva, mas sim como a garantia de um espaço para negociar a formação política e econômica da cidade.
Sob outra expectativa, o apelo desesperado por doações e mobilização para festa, revela não apenas a negligência do governo anterior, mas também a tendência do novo município de ,uma forma ou de outra, explorar sistematicamente a classe trabalhadora e empresarial, desejosos de um destino livre e próprio enquanto cidade e um povo.
Assim, apesar das divergências de interesses entre as diferentes classes sociais, o sucesso nas arrecadações de materiais básicos para prefeitura e da realização da Exposição Agropecuária, mostra hoje que houve um firme compromisso dos dos teixeirenses da época, em superar os desafios e em construir um futuro mais promissor para toda a comunidade no primeiro ano da cidade emancipada.
Fontes:
MENSITIERI, Carlos. A recente História de Teixeira de Freitas: Um depoimento! Perse. São Paulo, 2019.
Exposição Agropecuária vai começar dia 14. Jornal A tarde. 02 de Setembro de 1986.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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