Por Daniel Rocha

Na década de 1940, no distrito de Helvécia, município de Nova Viçosa, extremo sul da Bahia, antiga Colônia Leopoldina, estabelecida em 1818 por colonos alemães e suíços, atualmente um remanescente de quilombo, a “Dança da Garrafa de Vinho” era muito popular em festas e salões do lugar.

A brincadeira popular girava em torno de uma garrafa de vinho cheia deixada no meio de qualquer salão de dança do povoado para ser entregue como prêmio ao casal que dançasse a noite toda sem tocar ou derrubar a prenda.

Basicamente foi isso  que aconteceu para infelicidade de uma jovem garota do lugar que sem maldade vinha se envolvendo com um homem comprometido que se passou por solteiro, narra um causo contado por uma moradora da época.

Segundo a narrativa, ao saber do envolvimento do marido com a jovem a esposa traída e os familiares do pula cerca, preocupados com as consequências do envolvimento, batizou uma garrafa de vinho em um Terreiro local e colocaram no centro do baile organizado por eles e endereçado a jovem enganada.

Para esse baile diversas pessoas foram convidadas, dentre estas a inocente garota que chegando ao lugar ficou sozinha sem um par. O conquistador não apareceu, pois sabendo que se tratava de uma festa organizada na casa de um familiar corria o risco de ter o caso exposto.

Durante a festa um cavalheiro habilidoso e mal intencionado convidou a solitária apaixonada para dançar e assim o fez durante a festa. O dançarino com muita destreza dançou do início ao fim sem derrubar a garrafa deixada no centro do salão festivo.

Como manda a brincadeira no final do baile o casal vencedor ganhava a garrafa com vinho para servir ou beber juntos com os amigos, porém orientado o dançarino dispensou sua parte deixando exclusivamente para sua acompanhante de dança.

A garota satisfeita com a prenda convidou alguns amigos e foi para casa beber, sorrir e conversar. Como era por direito tomou uma dose do vinho antes de servir aos outros que aguardavam ansiosamente pela prenda, algo que não aconteceu, pois logo um mal súbito a atacou de forma fulminante.

Diante da situação, os companheiros concluíram que o vinho não havia feito bem a amiga que passou a sentir infinitas dores na cabeça e fungar lagartas pelo nariz. Assustados com tudo que vinha ocorrendo os amigos e familiares a embarcou no primeiro trem da companhia Bahia – Minas, linha férrea que ligava o povoado a cidade fronteiriça mais próxima, a mineira Nanuque.
Na cidade a turma buscou a orientação de uma “Mãe de Santo Mesa Branca” chamada Dona Sofia, que era conhecida por desfazer trabalhos feitos e “coisas mandadas”. A experiente Mãe, orientada pelos seus guias, teve a visão do mal que estava agindo dentro da apaixonada provocando dores e tormentos terríveis.

Com muita fé e trabalho a Mãe de Santo conseguiu livrar do sofrimento e das dores constantes a garota que tinha cometido apenas o pecado de acreditar demais no seu amado. Dona Sofia só não conseguiu acabar com o fungar das lagartas que a atormentou pelo resto da vida.

Fonte:

Maria Ronaldo – Teixeirense  de coração, nascida e criada em Helvécia.

Foto: Estação da estrada de Ferro Bahia -Minas de Helvécia. 1950. https://www.estacoesferroviarias.com.br

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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