Por Daniel Rocha

Em agosto de 1997, um rapaz de 31 anos, se passando por uma pessoa de posse, chegou em Teixeira de Freitas,Bahia, e se hospedou no Hotel San Rafael,Centro, onde se apresentou como Miranda, uma de suas identidades falsas, lubridiando toda a gente só não um  informado delegado. O que as aparências de poder de compra e consumo tem haver com isso?

Na cidade, poucas horas depois de ter chegado o estelionatário começou trabalhar nas brechas da sociabilidade possível, levantando informações e fazendo contato com pessoas ligadas ao comércio. Logo negociou a compra de duas lojas no shopping Teixeira Mall para abertura de um comércio o mais rápido possível.

De acordo com um jornal da época,  o valor de  R$35 mil  pelos pontos no shopping não parecia problema para ele, que dizia ter muito dinheiro. Com um ano de inaugurado, o shopping era um dos endereços mais procurados e caros da cidade e atraia a atenção de consumidores e empresários de toda região que via no espaço um símbolo do desenvolvimento urbano e demográfico local, fama que atraia ,também, o interesse de bandidos como o estelionatário.

Ainda conforme noticiou o jornal A tarde, informado que a realização de shows estava em alta na cidade, o vigarista  que tinha aparência de um galã da novela das 8, tratou de procurar empresários locais  para comunicar que iria realizar um grande festa Coutry na quadra do Clube Jacarandá e que buscava um sócio para dividir os custos e o lucro da contratação de diversos artistas famosos.

Avenida Marechal Castelo Branco. No canto esquerdo: parte do antigo Hotel San Raphael

Algo que parecia verdade, uma vez que já tinha o falso empresário contratado várias pessoas para fazer a divulgação da festa nas ruas através da entrega de panfletos.  Uma chamada  comercial também já vinha sendo veiculada em uma emissora de rádio e TV do município. 

Nos primeiros dias de ação do vigarista, nenhuma atitude do  malandro foi considerada suspeita, suas pequenas despesas  e consumo eram pagas com cheque especial do Banco Real, agência de Vitória do Espírito Santo, com o nome que se apresentava socialmente ,Miranda Silva. Tal fato deu credibilidade ao falsário que já era visto na cidade como um rico empreendedor elegante, educado, rico que se expressava muito bem.

Mas essa fama não convenceu o delegado da cidade, José Pereira,  que já havia lido uma matéria veiculada no jornal  intitulada“ Até o prefeito caiu na conversa do vigarista”, que noticiava que  diversas pessoas  da cidade de Jequié,BA, teriam sido ludibriadas por 171 mineiro que estava pela região se apresentando como um rico empresário do Rio Grande do Sul.

Em Jequié ele usou a falsa identidade de Frederico Tadeu, um gaúcho oriundo do município de  Livramento, RS,  formado em Arquitetura, que pretendia construir um hotel e uma fábrica de pré-moldados, ao qual buscava sócios e investidores para financiar uma pequena parte da obra. Dinheiro que ele levantou antes de seguir para Teixeira de Freitas.

Bastou o delegado juntar os fatos e levantar algumas informações para concluir que o Miranda na verdade era o falso gaúcho que aplicou golpes em Jequié. Ao ser detido pelo delegado, o vigarista  revelou sua verdadeira identidade, Reinaldo Gomes Torres,  oriundo da cidade mineira de Paraopeba.

No interrogatório, a polícia descobriu que ele usava documentos e cheques de uma carteira que dizia ter sido encontrada no banheiro da rodoviária da cidade, hoje rodoviária velha, mas que provavelmente foi roubada de alguém que encontrou ao desembarcar na cidade. 

A notícia do ocorrido mostra que no final dos anos 90 do século passado, as portas dos interesses e da sociedade comercial e empresarial teixeirense, tal como hoje,  se abriam com  mais facilidades para os que demonstram ou simulavam poder de compra e de consumo,  que dominavam o estereótipo e o linguajar do empreendedorismo e discurso do esforço próprio. Algo “natural”, estranhado apenas quando descortinadas as dimensões das consequências do engano.

Fonte: 

Vigarista mineiro agia em silêncio no sul do estado. Jornal A tarde. Setembro de 1997.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X. Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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