Por Daniel Rocha

Foi em 1948 que a Elecunha S/A ( (Eliozípio Cunha & Cia) com sua sede no Rio de Janeiro, estendeu seus braços até Nova Viçosa, instalando uma serraria que transformaria a economia local e, consequentemente, toda a região da fronteira do extremo sul baiano.

Estradas de rodagem foram abertas, pequenos povoados floresceram, e Teixeira de Freitas viu-se nascer à sombra da atividade madeireira que fez também surgir uma mobilização da classe operária e trabalhadora ativa na empresa.

Em 1969, uma notícia publicada no Jornal do Brasil, trouxe à tona as injustiças veladas nos corredores da serraria da Eliozípio Cunha ,em Nova Viçosa, através do relato da realização de uma greve que estremeceu as estruturas da empresa, quando 280 operários, privados de seus salários por três meses, e à beira da miséria, resolveram cruzar os braços e denunciar a reincidente situação de abusos sofridos a delegacia do trabalho da capital Salvador.


Segundo o periódico, através da sua sucursal no estado, a presença do delegado regional do trabalho na cidade foi provocada por um telegrama enviado pelos trabalhadores relatando a situação, o que fez com que o delegado Sr. Cicero Bahia Dantas, fosse acionado para mediar a crise que se estendeu por oito longos meses.


Mais do que uma demanda por salários atrasados, essa greve representou a irrupção da consciência de classe no distante e desestruturado extremo sul baiano que começava a receber investimentos em infraestrutura através da abertura de novas estradas, como a BR-101. Um levante contra a tirania e abuso cometidos pela empresa. Abusos que já estavam se tornando corriqueiros.

Imagem: trabalhadores extremo sul da Bahia 1960.


Em 1959, uma paralisação já havia ocorrido pelos mesmos motivos, deixando claro que os trabalhadores não tolerariam a exploração desmedida. É importante ressaltar que, nos registros da época, a organização dos trabalhadores é pouco mencionada, assim como a figura dos possíveis sindicatos, associações ou lideranças que estiveram à frente das ações. Uma lacuna histórica que reflete a desvalorização das lutas operárias na região, contrastando com a notoriedade dos empresários exploradores.

Essa lacuna oficial também reflete o temor das elites e dos meios de comunicação dominantes em divulgar e reconhecer a força das organização e da determinação dos oprimidos, que quando unidos, são capazes de mudar o rumo e o destino das relações de classe.

Em 1970, o governo baiano tomou uma medida drástica diante das práticas nefastas que lesavam o estado e a classe operária. O flagrante desvio de madeira para estados vizinhos e a sonegação de impostos pela empresa que alegava gozar de isenções governamentais, resultou na expulsão da Elecunha S/A do território baiano, justiça feita mais em relação aos interesses do erário do que pela exploração exacerbada da classe trabalhadora.

Por fim, levando em consideração o que foi exposto, no Dia do Trabalhador, em 1º de maio, é relevante conhecer o relato da greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Eliozípio Cunha como um episódio marcante na história da luta de classes no extremo sul da Bahia. Esse acontecimento serve como um exemplo significativo do que os trabalhadores devem fazer diante de qualquer tentativa de exploração desumana da força de trabalho.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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Fontes:

SILVA. Daniel Rocha da. O desenvolvimento socioeconômico do Extremo sul da Bahia nos Jornais de 1950 -1960. UNEB – 2020

Jornal do Brasil 1969.

Jornal do Brasil 1970.

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