Por Lizete Caires

A comunidade Fura Coco está cercada pelo plantio de Eucalipto sendo que essa monocultura está presente em quase toda região do Extremo Sul da Bahia, inviabilizando assim a permanência de muitos trabalhadores rurais em suas pequenas propriedades no campo. Segundo o IMA – Instituto do Meio Ambiente no Estado da Bahia (2008):

“A produção de celulose no Sul e Extremo Sul da Bahia começou no início da década de 90. Nessa região, uma das mais produtivas do mundo, o cultivo do eucalipto encontrou um grau de produtividade 5 vezes maior que em outras regiões do país. Ao longo de décadas, terras foram sendo adquiridas para implantação dos cultivos, substituindo outros usos, inicialmente para abastecer as fábricas já instaladas em Minas Gerais e no Espírito Santo e, depois, no próprio estado”. (p. 05).

Para além da plantação do eucalipto existem pessoas, grupos e comunidades que sobrevivem e resistem em seus pequenos sítios, produzindo diversos produtos e comercializando os mesmos ao público urbano. Como afirma Gomes (2009), “espaço de vivência para além das estradas e seus eucaliptais. Lugares plenos de histórias, histórias que sugerem outro jeito de viver e lidar com a terra, com o ritmo do tempo, com as relações de sociabilidade” (p. 13).

Farinheira do Fura Coco

Segundo Oliveira, Menegasse e Duarte (2011) “Os efeitos ambientais do eucalipto foram e são temas de inúmeras polêmicas e, de modo geral, os ambientalistas o consideram como altamente impactante, com efeitos danosos para o solo, recursos hídricos, na diversidade da flora (efeitos alelopáticos), e por consequência ao ser humano” (p. 04).

Nas conversas que tive com alguns moradores há divergências sobre essa invasão do Eucalipto na região. Para D. Maria Antônia, a chegada do Eucalipto na década de 90 não foi ruim, porque conserva as estradas e ajuda os moradores da região com madeira para cercamento das propriedades.

Para um dos filhos que estava presente na conversa, relatou que no início foi bom porque trouxe emprego no início, mas logo a empresa começou a usar as máquinas, substituindo o emprego, isso foi ruim para as comunidades vizinhas, gerando desemprego.

Comunidade do Fura Coco

Nos relatos de alguns moradores, bom pra comunidade hoje é o condomínio Praia de Guaratiba, porque proporciona emprego para o pessoal da comunidade. Muitos dos filhos e netos dos moradores da Comunidade trabalham em diversos serviços em Guaratiba: pedreiros, jardineiros, carpinteiros, limpeza geral, secretária, etc. Segundo os moradores da comunidade, o Eucalipto da região pertence à empresa Aracruz e Suzano Papel e Celulose.

A Comunidade Fura Coco possui uma Associação de Trabalhadores da Agricultura Familiar em pleno funcionamento com dezenas de associados, criada em agosto de 2017, possuindo mais de 40 associados. A empresa Suzano Papel e Celulose promove ajuda à comunidade através da Associação. O presidente da associação é o Sr. Jivaldo dos Santos Guedes, de 28 anos, nascido na comunidade Fura Coco, os pais do Sr. Jivaldo também veio da região do Itaitinga. A Comunidade possui umas 06 farinheiras (casa de farinha). Está sendo construída uma Farinheira Comunitária. A mesma está sendo construída com a ajuda dos Associados e a Suzano Papel e Celulose está contribuindo, doando fornos, motores e outros materiais.

O terreno para a construção da Farinheira Comunitária foi cedido pela família da Sra. Maria do Rosário. A Associação busca trazer benefícios para a comunidade através dos programas governamentais e pelas empresas privadas de Papel e Celulose que exploram as terras da região para o plantio do Eucalipto. Quando perguntado ao Sr. Jivaldo sobre os benefícios da Eucaliptocultura, ele relatou que a mesma não trouxe muitos benefícios para a região, porque destruiu parte da mata nativa.

Referências:

GOMES, Liliane Maria Fernandes Cordeiro. HELVÉCIA – Homens, Mulheres e Eucaliptos (1980 – 2005). UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – campus V PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA REGIONAL E LOCAL. 2009. Disponível em: https://www.livrosgratis.com.br/ler-livro-online-115738/helvecia—homens-mulheres-e-eucaliptos-1980-2005. Acessado em 11/05/2021.

IMA, Instituto do Meio Ambiente do Estado da Bahia. Silvicultura de Eucalipto no Extremo Sul da Bahia: Situação atual e perspectiva Ambiental. Governo do Estado da Bahia. Secretaria do Meio Ambiente – SEMA. Instituto do Meio Ambiente – IMA. 2008. Disponível em: http://www.inema.ba.gov.br/wp-content/files/DE_Diagnostico_Silvicultura_Eucalipto_2008.pdf. Acessado em: 11/05/2021.

OLIVEIRA, Fernando Roberto de; MENEGASSE, Leila Nunes & DUARTE, Uriel. IMPACTO AMBIENTAL DO EUCALIPTO NA RECARGA DE ÁGUA SUBTERRÂNEA EM ÁREA DE CERRADO, NO MÉDIO VALE DO JEQUITINHONHA, MINAS GERAIS. Disponível em: file:///C:/Users/35/Downloads/22677-Texto%20do%20artigo-81980-1-10-20110823.PDF. Acessado em: 18-08-2021.

Lizete Caires Barros Martins* 

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia -Uneb. Bacharelada  em Serviço Social pela Universidade Pitágoras Unopar. Pós-graduada em Gestão e Organização da Escola pela Universidade do Norte do Paraná-Unopar. Graduanda em Pedagogia pela Universidade do Norte do Paraná-Unopar. Professora da Rede Municipal de Ensino de Teixeira de Freitas e Medeiros Neto Bahia

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